Capítulo 9 Morcegos e eólicas: modelagens de riqueza de espécies e risco de colisão atual no Brasil

Enrico Bernard1 & Mauricio Cavalcante dos Santos2

1. Laboratório de Ciência Aplicada à Conservação da Biodiversidade
Departamento de Zoologia
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
Rua Nelson Chaves s/n, Cidade Universitária
50670-901 Recife, PE

2. Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres – CEMAVE
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio
Floresta Nacional da Restinga de Cabedelo
BR-230 Km 10
58108-012 Cabedelo, PB


A terceira edição do Relatório de Rotas e Áreas de Concentração de Aves Migratórias no Brasil, publicada em 2019, trouxe uma análise até então inédita para o país, onde foi utilizada a modelagem de distribuição potencial para identificar áreas de maior riqueza de espécies de morcegos no Brasil, e estes dados foram sobrepostos com informações disponíveis sobre parques eólicos no país. Os objetivos daquela análise foram quantificar quadrículas que concentravam maior riqueza de espécies (incluindo ameaçadas) e maior área de rotor – expressa a partir da soma do diâmetro das pás dos aerogeradores na quadrícula – de forma a identificar pontos com maior potencial de colisão entre a fauna voadora e os aerogeradores. Este tipo de análise é útil no processo de tomada de decisões de áreas críticas para a conservação da biodiversidade e fornece subsídios para a melhoria dos processos de licenciamento ambiental.

Nesta nova versão, a base da análise, i.e., o cruzamento de informações sobre riqueza potencial de espécies de morcegos e a quantificação e espacialização da área de rotor dos aerogeradores, permaneceu a mesma, porém atualizamos a análise apresentada em 2019, utilizando os dados mais atuais sobre quantidade e localização dos aerogeradores.

9.1 Modelagem da riqueza de morcegos e avaliação do potencial de colisão

As informações sobre a modelagem da riqueza potencial de espécies de morcegos não foram alteradas em relação à análise de 2019, e a descrição completa da metodologia pode ser obtida em Delgado-Jaramillo et al. (2020). Basicamente, foi utilizado o software Maxent 3.3.3 (Phillips, et al., 2006) para uma modelagem de distribuição potencial das espécies em quadrículas de 5 km × 5 km, a partir de um banco de dados de mais de 9.000 registros pertencentes a 132 espécies. A maior parte deste banco de registros de ocorrência de espécies de morcegos está agora disponível publicamente. Na análise de 2019, foram modeladas a distribuição potencial unicamente espécies com mais de seis registros. Espécies vulneráveis ou de importância para conservação, tais como endêmicas e ameaçadas, com menos de seis registros tiveram sua distribuição espacializada a partir do Mínimo Polígono Convexo dos pontos distais de registros. Para a identificação do status de conservação foi utilizada a lista oficial de espécies ameaçadas de extinção, conforme a Portaria MMA nº 444/2014.

A metodologia para a avaliação do potencial de colisão entre morcegos e aerogeradores passou por uma pequena alteração em relação à análise de 2019. Para a análise atual, em vez de quadrículas de 20 × 20 km, utilizamos quadrículas de 10 minutos, ou cerca de 18 × 18 km, advindas de uma grade virtual criada sobre o território brasileiro (detalhes no capítulo 7). Foram utilizados os dados de aerogeradores disponíveis no Sistema de Informações Georreferenciadas do Setor Elétrico da Agência Nacional de Energia Elétrica em 26 de janeiro de 2022, para calcular a área total de rotor existente em cada quadrícula. Este cálculo considera a área do rotor de cada aerogerador a partir do diâmetro de suas pás, e soma as áreas do total de aerogeradores. Isso nos permitiu expressar qual área potencial (em m2) de colisão dos morcegos – e também outros animais voadores - com as pás dentro de cada quadrícula de ~ 324 km2. Estes procedimentos foram feitos usando ferramentas do programa ArcGIS 10.3 (ESRI 2015). Acesse aqui os shapefiles resultantes destas análises.

9.2 Resultados

Riqueza potencial – Como detalhado na análise de 2019, a riqueza potencial de espécies de morcegos no Brasil varia de 23 a 117 espécies/25 km2 (média 80,74 ± 14,76 espécies; moda 74-85 espécies/25 km2; Figura 9.1). A riqueza de espécies de morcegos é elevada em quase todo o território nacional: 70% do país tem riqueza potencial de 50 a 90 espécies, e 25% > 90 espécies; apenas 5% tem potencial < 50 espécies/25 km2 (Figura 9.1). A porção costeira da Mata Atlântica (quadrículas Q17, Q18, R11 - R16 e T7 - T9), principalmente na região Nordeste, e ao longo de sua zona de contato com o bioma Caatinga, são as áreas com maior potencial de riqueza de espécies (Figura 9.2), seguidas pelas regiões central e norte da Amazônia, no leste do Amazonas, no centro e norte do Pará (quadrículas H6, I6, J5, J6, K5 – K7, L3 - L7, M4, M5), noroeste de Roraima (G2, H2), norte do Maranhão e costa do Piauí (O5 – O7, P6, P7, Q6).


Riqueza potencial de espécies de morcegos modelada para o Brasil.

Figura 9.1: Riqueza potencial de espécies de morcegos modelada para o Brasil.


Espécies ameaçadas e endêmicas – Mantivemos o critério de considerar como mais relevantes para espécies ameaçadas de extinção aquelas quadrículas que continham pelo menos cinco das sete espécies ameaçadas de morcegos reconhecidas no Brasil. Estas quadrículas estão distribuídas nos biomas Cerrado (com a maior área) e Caatinga (Figura 9.2). As quadrículas com o maior número de espécies ameaçadas de morcegos no Brasil são encontradas na Bahia (Q11 – Q13), na fronteira entre Piauí, Ceará, Pernambuco e Paraíba (Q8, R8, R9, S9) e pequenas porções entre os estados de Minas Gerais e São Paulo (N16 – 18, O18). Todas estas quadrículas contêm seis espécies ameaçadas.


Distribuição potencial de espécies ameaçadas de morcegos no Brasil, considerando as sete espécies oficialmente listadas para o país: Eptesicus taddeii (VU), Furipterus horrens (VU), Glyphonycteris behnii (VU), Lonchorhina aurita (VU), Natalus macrourus (VU), Xeronycteris vieirai (VU) e Lonchophylla dekeyseri (EN).

Figura 9.2: Distribuição potencial de espécies ameaçadas de morcegos no Brasil, considerando as sete espécies oficialmente listadas para o país: Eptesicus taddeii (VU), Furipterus horrens (VU), Glyphonycteris behnii (VU), Lonchorhina aurita (VU), Natalus macrourus (VU), Xeronycteris vieirai (VU) e Lonchophylla dekeyseri (EN).


Área de colisão potencial – Baseado nos dados disponíveis até 26 de janeiro de 2022, 13 estados brasileiros possuem parques eólicos em operação (Figura 9.3). A base de dados do SIGEL aponta, em todo o Brasil, 18129 aerogeradores, sendo que 8410 destes constam como “em operação”. A Bahia é o estado com o maior número total de aerogeradores (6113), seguida pelo Rio Grande do Norte (4693), Ceará (1705), Piauí (1641) e Rio Grande do Sul (1530). Quanto à área total de rotor, a Bahia também aparece em primeiro lugar, com 92.366.748 m2, enquanto o Rio Grande do Norte tem 61.088.354 m2, Ceará tem 21.389.264 m2, Piauí tem 20.960.472 m2, e o Rio Grande do Sul tem 16.832.971 m2.


Riqueza potencial de espécies de morcegos e localização de parques eólicos em atividade no Brasil.

Figura 9.3: Riqueza potencial de espécies de morcegos e localização de parques eólicos em atividade no Brasil.


Oitenta e duas quadrículas têm > 1.000.000 m2 de área de rotor; 20 quadrículas (todas no Rio Grande do Norte, Bahia, Paraíba e Ceará) têm > 2.000.000 m2; nove quadrículas (Bahia, Rio Grande do Norte e Ceará) têm > 3.000.000 m2; e duas quadrículas na Bahia e uma no Ceará têm > 3.500.000 m2 de área de rotor. A quadrícula com maior área de rotor no Brasil está na Bahia (4.677.737 m2) e a segunda maior no Ceará (4.500.635 m2). Mapas específicos para cada um dos estados com parques eólicos são apresentados nas Figuras 9.4 - 9.16.

A geração eólica é bastante desproporcional quando sobreposta aos biomas brasileiros: cerca de 80% dos aerogeradores instalados no Brasil encontram-se nos domínios do bioma Caatinga (Tabela 9.1). Esta grande concentração aponta que o estudo e o monitoramento dos efeitos da geração eólica sobre morcegos deve ser visto como prioritário para a Caatinga, pois este é também o bioma com a maior concentração de espécies de morcegos endêmicas do Brasil, e as porções com maior riqueza potencial de espécies estão também nas zonas de contato entre a Mata Atlântica e a Caatinga. Já o Cerrado figura com 8,9% dos aerogeradores do Brasil, e o Pampa tem a terceira maior concentração (8,4% do total), mas é o bioma menos amostrado para morcegos do Brasil, com apenas 1% dos registros conhecidos para o país. Embora tenha uma das maiores riquezas potenciais de espécies, e seja o bioma mais ameaçado pela perda e hiperfragmentação do habitat, a Mata Atlântica tem apenas 2,5% dos aerogeradores.

Não estão computadas em nossa análise dados para a geração eólica offshore no Brasil, pois até a redação deste capítulo não havia parques nestes ambientes em operação no país. Entretanto, o Brasil deve experimentar nos próximos anos um boom de pedidos de licenciamento de parques eólicos offshore na costa do Nordeste, apontando também a necessidade de estudos prioritários para estes ambientes na região (veja capítulo 8).


Tabela 9.1: Distribuição de aerogeradores por bioma no Brasil.
Bioma Nº de aerogeradores % por Bioma
Caatinga 14530 80.14
Cerrado 1621 8.94
Pampa 1520 8.39
Mata Atlântica 458 2.53
Total 18129 100.00
a Fonte: ANEEL (janeiro de 2022).



Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado do Maranhão. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL

Figura 9.4: Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado do Maranhão. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL


Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado do Piauí. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL

Figura 9.5: Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado do Piauí. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL


Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado do Ceará. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL

Figura 9.6: Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado do Ceará. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL


Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado do Rio Grande do Norte. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL

Figura 9.7: Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado do Rio Grande do Norte. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL


Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado da Paraíba. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL

Figura 9.8: Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado da Paraíba. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL


Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado de Pernambuco. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL

Figura 9.9: Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado de Pernambuco. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL


Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado de Sergipe. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL

Figura 9.10: Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado de Sergipe. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL


Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado da Bahia. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL

Figura 9.11: Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado da Bahia. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL


Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado de Minas Gerais. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL

Figura 9.12: Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado de Minas Gerais. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL


Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado do Rio de Janeiro. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL

Figura 9.13: Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado do Rio de Janeiro. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL


Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado do Paraná. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL

Figura 9.14: Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado do Paraná. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL


Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado de Santa Catarina. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL

Figura 9.15: Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado de Santa Catarina. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL


Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado do Rio Grande do Sul. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL

Figura 9.16: Número total de aerogeradores (acima) e área de rotor (abaixo) em quadrículas de 18 × 18 km, sobrepostos à riqueza potencial de espécies de morcegos para o estado do Rio Grande do Sul. Dados de turbinas para janeiro de 2022. Fonte: SIGEL/ANEEL


9.3 Considerações finais

A comparação com a análise prévia publicada em 2019 indica um aumento do número de aerogeradores e tendência também para o uso de aerogeradores maiores e com maior área de rotor. Consequentemente, houve também aumento da área de colisão potencial com a fauna voadora. Para fins de comparação, a área de rotor no estado da Bahia equivale a um muro de 100 metros de altura por 923 km de comprimento, enquanto no Rio Grande do Norte este mesmo muro teria 610 km de comprimento. Estes valores demonstram claramente o quão obstruído e desafiador para um organismo voador pode ser o espaço aéreo de algumas das regiões com maior potencial eólico no Brasil. Este é um problema conservacionista especialmente para morcegos e aves que se deslocam a baixa altitude. Quando da instalação dos parques eólicos offshore, a área de rotor deverá aumentar muito mais, pois os aerogeradores utilizados nestes ambientes são bem mais altos e com pás bem maiores do que os modelos usados onshore (veja capítulo 7).

A distribuição dos aerogeradores não é aleatória, e eles tendem a estar concentrados em quadrículas específicas de cada estado, obviamente aquelas onde o potencial eólico maior já foi detectado pelas empresas e ocupado pelos parques eólicos em operação e em construção. De maneira geral, na região Nordeste os parques estão localizados sobretudo em dois ambientes distintos: áreas bem próximas da linha costeira, e as porções mais altas do relevo na porção interior dos estados. Em ambas as situações, há forte sobreposição entre locais de instalação de parques eólicos e algumas das áreas com maior riqueza potencial e maior potencial de ocorrência de espécies ameaçadas de morcegos no Brasil. Esta sobreposição é particularmente problemática quando observado que a maior parte dos órgãos ambientais licenciadores da região Nordeste não exige Estudo de Impacto Ambiental para o licenciamento dos parques eólicos, substituindo-o pelo Relatório Ambiental Simplificado (Barros & Bernard 2019). A adoção do Relatório Ambiental Simplificado é problemática, pois as áreas com maior concentração de parques eólicos são também áreas com grandes vazios amostrais para morcegos no Brasil (Bernard et al. 2011; Bernard et al. 2014), com ênfase para a Caatinga (Neri et al. 2019). Assim, a adoção de um Relatório Ambiental Simplificado que permite a elaboração de lista de espécies a partir de revisão de literatura invariavelmente gerará dados incompletos, subestimando tanto a real riqueza de espécies de morcegos no local (Barros et al. 2017), quanto o real impacto dos aerogeradores sobre a fauna alada (Barros et al. 2022).


9.4 Referências bibliográficas

Barros, M.A.S., Bernard, E. 2019. Licenciamento ambiental de parques eólicos no Brasil: qualidade das diretrizes estaduais para avaliação de impacto sobre morcegos, p. 504-523. In: BRAZIL WINDPOWER, 10. GWEC/Grupo Canalenergia/ABEEólica. São Paulo.

Barros, M.A.S., Bernard, E., Pereira, M.J.R., Rui, A.M., Falcão, F.C., Luz, J.L. 2017. Diretrizes para estudos de impacto de parques eólicos sobre morcegos no Brasil. Sociedade Brasileira para o Estudo de Quirópteros. Disponível em: www.sbeq.net/licenciamento Acesso em: [16/04/2022]

Barros, M.A.S., Iannuzzi, L., Silva, I.L.H., Otálora-Ardila, A., Bernard, E. 2022. Factors affecting searcher efficiency and scavenger removal of bat carcasses in Neotropical wind facilities. The Journal of Wildlife Management, 86(4): e22198. https://doi.org/10.1002/jwmg.22198

Bernard, E., Aguiar, L.M.S., Machado, R.B. 2011. Discovering the Brazilian bat fauna: A task for two centuries? Mammal Review 41: 23–39. https://doi.org/10.1111/j.1365-2907.2010.00164.x

Bernard, E., Paese, A., Machado, R.B., Aguiar, L.M.S. 2014. Blown in the wind: bats and wind farms in Brazil. Natureza & Conservação 12: 106-111.

Delgado-Jaramillo, M., Aguiar, L.M.S., Machado, R.B., Bernard, E. Assessing the distribution of a species-rich group in a continental-sized megadiverse country: Bats in Brazil. Diversity & Distributions 26: 533-648. https://doi.org/10.1111/ddi.13043

ESRI (Environmental Systems Research Institute). 2013. ArcGIS Professional GIS for the desktop, versão 10.2.

Neri, M., Jameli, D., Bernard, E., Melo, F.P.L. 2019. Green versus green? Adverting potential conflicts between wind power generation and biodiversity conservation in Brazil. Perspectives in Ecology and Conservation 17(3): 131-135. https://doi.org/10.1016/j.pecon.2019.08.004

Phillips, S.J., Anderson, R.P., Schapire, R.E., 2006. Maximum entropy modeling of species geographic distributions. Ecological Modelling 190: 231-259.